Pessoas com deficiência na pandemia da Covid-19

As restrições impostas pelo isolamento social mudaram a vida de todas as pessoas ao redor do mundo, as quais tiveram seus acompanhamentos médicos e tratamentos com fisioterapeutas e outros profissionais da área da saúde suspensos, sem previsão de retorno.

Principalmente as pessoas com deficiência, que representam mais de 45 milhões de brasileiros, segundo o IBGE, e que são parte do grupo de risco, estão sofrendo ainda mais com essas suspensões.

A dificuldade de acesso à saúde, locomoção, educação, trabalho, cultura e lazer, sempre foram barreiras antes mesmo do coronavírus se espalhar pelo mundo. Para muitas pessoas com deficiência, que tinham alguns problemas, e muitas vezes dificuldades de realizar com autonomia suas atividades diárias por conta das barreiras arquitetônicas, comunicacionais e tecnológicas. Devido às desigualdades que enfrentam, são mais propensas a viver na pobreza e a sofrer taxas mais altas de violência, negligência e abuso, reforçando que a pandemia está intensificando esses fatores e produzindo novas ameaças.

Luciana Trindade, cadeirante e Consultora de Diversidade e Inclusão na Innovare Inclusiva, em parceria com o canal Mova-se, criou a campanha: Como você está? que aborda sobre o impacto do isolamento social na saúde e nas emoções das pessoas com deficiência, e também nos contou: “recebo as compras na porta, sem nenhum contato. Não deixo nem os parentes entrarem na minha casa. Falei pra eles, não é nada pessoal, mas eu preciso preservar minha saúde, afinal, apenas 15% do meu pulmão funciona, devido a distrofia muscular.”

“Infelizmente, não são todas as pessoas com deficiência que conseguem cumprir a quarentena em casa. Inclusive posso ajudar minha mãe com as atividades essenciais, mas há muitas pessoas com deficiência que moram sozinhas, distante de seus familiares ou que não tem parentes, os quais poderiam auxiliar neste momento tão crítico.” destaca Talita Cristina Oliveira, que convive com sua mãe que tem deficiência múltipla adquirida (auditiva e física) e atua com inclusão de profissionais com deficiência há 15 anos.

Entre as pessoas com deficiências múltiplas, destacamos o quanto este momento é delicado para os surdocegos que dependem do contato físico para se comunicarem através da libras tátil ou do tadoma, e até mesmo para as pessoas cegas, como diz Nico Nascimento: “De uma forma geral, as pessoas são sempre solidárias. Antes da pandemia o contato físico sempre acontecia e não me preocupava, agora as pessoas querendo me ajudar tornou-se um risco, porque fico mais exposto ao vírus quando me tocam para guiar.”

Talita acredita que outro desafio é falar sobre o coronavírus para pessoas surdas, com autismo e deficiência intelectual: “Costuma ser mais complexo, porque podem ser interpretadas de diversas formas, se não houver uma comunicação adequada e assertiva. Precisamos ultrapassar as barreiras linguísticas e cognitivas, e levar as informações com o mesmo cuidado, sem perder o sentido.”

A especialista acrescenta ainda a importância que as instituições e os profissionais que atuam com o tema tem de levar o máximo possível de informações para diminuir os riscos das pessoas com deficiência, informando-as sobre aspectos de higiene e contaminação, evitando que elas entrem em contato com o vírus e o transmitam para outras pessoas, além de ajudar as empresas a se adaptar frente a esse cenário, apoiando a continuidade das atividades em home office, indicando tecnologias assistivas, trabalhando a inteligência emocional e finanças.

Por fim, a questão financeira e o desemprego têm gerado grande preocupação. Segundo a CNC – Confederação Nacional do Comércio, 67,1% das pessoas estão endividadas. Esse cenário está associado a falta de reservas, popularmente conhecido como colchão de segurança. Nico Nascimento é Planejador Financeiro Pessoal Inclusivo e comenta: “No Brasil, não temos acesso à educação financeira no ensino formal e temos um tabu para falar sobre dinheiro em casa. Isso se potencializa para as pessoas com deficiência, que muitas vezes não têm acesso às informações devido a falta de acessibilidade na web.”

Trabalhar para a inclusão com qualidade das pessoas com deficiência faz parte do propósito e motivação do time Innovare Inclusiva, todos os dias buscam conexões entre empresas e profissionais com deficiência engajados a transformar a sociedade através da Diversidade.

Por Viviane Gomes Garcia