O papel do RH na inclusão de pessoas com deficiência

A contratação de pessoas com deficiência envolve responsabilidade social. Apesar deste conceito crescer, ainda temos inúmeras empresas que praticam a integração ao invés da inclusão.

Na integração, a pessoa com deficiência tem que se adaptar à sociedade como ela é. Já na inclusão, tanto a pessoa com deficiência como a sociedade adaptam-se simultaneamente.

Por mais que a sociedade lute para que a pessoa com deficiência desfrute com igualdade dos mesmos direitos, ainda percebemos, em pleno século 21, que grande parte da população apresenta desinformação e preconceito, procedente das gerações passadas e do aprendizado cultural.

A falta de informação é uma das maiores causas do preconceito e um dos principais fatores impeditivos para a inclusão social. Conhecer este universo auxilia na desmistificação da deficiência, favorecendo o relacionamento com este público e a sua inclusão na sociedade.

Contamos com legislações garantindo às pessoas com deficiência os direitos à educação, à comunicação, aos serviços públicos, ao transporte, à saúde e ao trabalho. Entre elas está a Lei de Cotas (8213/1991), com a obrigatoriedade das empresas com mais de cem empregados ter entre seus funcionário de dois a cinco por cento de pessoas com deficiência, variando de acordo o número total de colaboradores.

O RH deve trabalhar para que a contratação não seja apenas um mero cumprimento da Lei de Cotas, deixando o profissional excluído ou sendo tratado com desigualdade. O papel do RH é auxiliar a instituição a adotar a filosofia da inclusão social. Ficando responsável pela mediação entre a organização, a equipe e o novo colaborador. Agindo como facilitador na construção de vínculos, auxiliando na compreensão sobre as diferenças e na convivência mútua.

A área de Recursos Humanos, dessa forma, humaniza e sensibiliza o grupo para o acolhimento das pessoas com deficiência, para serem vistos como seres humanos, com limitações, habilidades e potencialidades, assim como qualquer indivíduo. Ficando ainda atenta, visando diminuir as divergências entre a teoria e a prática, com o objetivo de evitar situações conflitantes e práticas discriminatórias.

Dentre as atribuições do RH é fundamental, ao alinhar o perfil da vaga, detalhar as atividades que serão desenvolvidas e questionar quais são as barreiras arquitetônicas existentes. Assim, saberá se são compatíveis com a deficiência do candidato.

A acessibilidade exige uma atenção especial porque é fundamental para que as tarefas sejam executadas com autonomia, possibilitando o desenvolvimento humano. Se necessário, sugere-se adaptações físicas à instituição e também a investigação dos recursos da tecnologia assistiva, visando contribuir com o aumento da produtividade e independência.

O RH além de conscientizar, também propõe mudanças de hábitos e verifica se os pensamentos e ações estão congruentes. Caso existam muitas incompatibilidades entre o perfil da vaga e o perfil do candidato, é necessário informar as dificuldades encontradas no processo seletivo e negociar com o requisitante para flexibilizar algumas exigências.

Um case de sucesso, exemplo de superação, é de uma pessoa que tem ausência total do membro superior, trabalha como caixa em um banco e é o mais rápido da agência. É de extrema importância realizar junto ao candidato a análise da deficiência e a função. Desta forma, selecionador ou gestor não se enganarão por achar que ele não pode fazer tal atividade.

Durante a entrevista é importante perguntar sobre as limitações para que as atividades profissionais não gerem dor, desconforto ou se tornem prejudiciais com o passar do tempo. E também observar seu estado emocional em relação à deficiência.

Após a admissão fazer o follow up com o gestor e/ou com o funcionário possibilita acompanhar sua evolução. Durante esse monitoramento é possível identificar dificuldades e desvios para tomar ações corretivas. Essas ações voltadas para a avaliação de desempenho e treinamentos colaboram para a retenção de talentos. Esse é um dos desafios encontrados nessa área: melhorar a qualificação dos profissionais com deficiência e diminuir o turnover.

É importante reconhecer e reforçar as características positivas, pontuar o que precisa ser melhorado e transmitir o que será esperado dele em sua rotina de tarefas. O feedback favorece na melhora do seu desempenho. Este posicionamento o ajudará a elevar a autoestima e a ter comportamentos futuros mais adequados.

É fundamental na convivência com pessoas com deficiência olhar com respeito as diferenças e acreditar em seus potenciais. Considerar limitações que não podem ser negadas e, principalmente, observar as habilidades e favorecer ao máximo a autonomia.

Você pode ser um agente transformador em nossa sociedade. Qual proposta pode criar para que sua empresa seja referência na inclusão de pessoas com deficiência?

A sociedade carece de protagonistas que queiram enfrentar juntos o desafio de aumentar o número de pessoas com deficiência no mercado profissional, que estejam dispostos a executar mudanças fundamentais na organização, implementar adaptações no ambiente, ajustar procedimentos e ferramentas para garantir pleno acesso e ampla qualidade de vida.

Exercitando a humanização no dia a dia, as próximas gerações estarão mais preparadas para lidar com as diferenças.

Por Talita Cristina Oliveira