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O Emprego Apoiado e sua importância na vida da pessoa com deficiência
O Emprego Apoiado (EA) é uma metodologia que tem como objetivo a inclusão profissional de pessoas em situação de exclusão social. No Brasil, é mais utilizado para apoiar as pessoas com deficiência intelectual a conquistarem uma vaga no mercado de trabalho, mas pode ser aplicado às pessoas com outras deficiências ou em situações de vulnerabilidade.
Talita Cristina Oliveira, psicóloga e sócia da Innovare Inclusiva comenta que ao contrário do que se possa pensar sobre esse tipo de ação, “é importante ficar bem claro que o Emprego Apoiado não se caracteriza pelo assistencialismo, pelo contrário, o gestor deve estar satisfeito com a qualidade e produtividade do trabalho desempenhado pelo profissional com deficiência, assim como o colaborador com deficiência também precisa estar satisfeito com a função exercida para proporcionar o desenvolvimento profissional almejado”.
A Innovare Inclusiva conversou com Maria Fernanda Baptista Prezia e Juliana Barica Righini, diretoras da ANEA (Associação Nacional do Emprego Apoiado), para demonstrar o quanto é importante investir em diversidade e na contratação de profissionais com deficiência com múltiplos talentos.
Fernanda é psicopedagoga com formação em Emprego Apoiado, consultora e coordenadora técnica do curso de capacitação de consultores em Emprego Apoiado da Apabex. A profissional enfatiza que é de suma importância disseminar sobre essa metodologia e que todas as fases do processo são fundamentais para atingir os objetivos desejados. “Na fase da descoberta, é possível traçar o perfil vocacional dessa pessoa, conhecer, entender como ela vive na comunidade dela, quem ela conhece”, enfatiza.
Juliana é assistente social e consultora de Emprego Apoiado, começou a trabalhar com pessoas com deficiência desde quando se formou. Conheceu o Emprego Apoiado em 2008, durante sua atuação no Carpe Diem, e em 2009 conheceu a Fernanda, durante a formação da Rede de Emprego Apoiado em São Paulo, que em 2014 se tornaria a ANEA.
A origem do Emprego Apoiado
Uma universidade americana, no fim da década de 1970, começou a notar que pessoas com deficiências intelectuais ou não conseguiam espaço no mercado de trabalho ou eram demitidas em um curto período de tempo. Foi a partir dessa observação que os primeiros projetos do Emprego Apoiado começaram a sair do papel e a buscar métodos mais eficientes. Foi nesse contexto que o treinamento no ambiente de trabalho e o acompanhamento de um consultor qualificado começaram a fazer toda a diferença.
“Já tive a oportunidade de acompanhar jovens com deficiência intelectual, síndrome de down e autismo. Sem dúvidas, a metodologia é muito eficaz, reduz o turnover e engaja toda a equipe. Alguns gestores ainda comentam o quanto melhoraram sua comunicação, paciência e criatividade, e puderam utilizar dessas características com toda a equipe e não apenas com a pessoa com deficiência”, relata Talita.
No Brasil, as iniciativas começaram em 1987, quando Romeu Kazumi Sassaki começou a trocar informações com o padre Luiz Carlos Dutra, que morava nos Estados Unidos, e compartilhou diversos documentos sobre o assunto.
Em 1994, a Companhia Metropolitana de São Paulo solicitou uma consultoria com o Romeu, o que resultou na recontratação do Marco Antonio Ferreira Pellegrini, que adquiriu sua deficiência (tetraplegia) aos 27 anos, decorrente de um tiro durante um assalto na porta da sua casa. Ele foi o primeiro profissional brasileiro que teve seu posto de trabalho garantido com o Emprego Apoiado.
De lá para cá, inúmeras outras iniciativas passaram a conduzir o Emprego Apoiado como meio eficiente de contribuir com a inclusão dos profissionais com deficiência em diversas áreas.
As Fases Fundamentais
Juliana explica que o trabalho do consultor engloba realizar o levantamento das habilidades que cada pessoa tem para que seja possível compreender o contexto que ela vive, quais as prováveis redes de apoio e as características pessoais. Além disso, entende-se quais são os projetos de vida de cada indivíduo para fazer uma busca de empresas e vagas que sejam coerentes com essas expectativas. “Essa metodologia foi criada para inverter a lógica de mercado: a partir das habilidades da pessoa, que possam gerar valor para aquela empresa, ela entra dentro do mercado de trabalho. A partir daí, ela consegue fazer capacitações, ou sugerimos adaptações e estratégias de adaptações para que aquela pessoa possa sempre atender as demandas da empresa, de acordo com as habilidades e competências que ela tem”, enfatiza.
Nessa fase, os consultores também podem ir até as empresas que se enquadram no perfil identificado, realizam mapeamento de função, avaliações, bem como se há necessidade em ter apoio interno ou externo. Com relação às empresas é possível investir em palestras, sensibilizações da equipe, entre outras ações.
Depois da combinação entre o profissional apoiado e a empresa em que ele vai trabalhar, é essencial também traçar estratégias que envolvem o meio de locomoção ao trabalho, noção de horários a cumprir, controle financeiro, entre outros itens que farão parte da vida profissional do indivíduo. É nessa fase que é possível agregar o senso de responsabilidade aos novos colaboradores.
Durante o período de experiência, o consultor oferece todo suporte para o profissional se adequar dentro da empresa, mas sem deixar de lado a autonomia da pessoa com deficiência para tomar suas próprias decisões e interagir com toda a equipe.
A pós-colocação visa ter estratégias baseadas nas leis e com questionamentos reais sobre as necessidades em mudar alguma política da empresa, o fluxo da equipe etc. “Nos casos das pessoas com deficiência que já atendemos, e que aplicamos a metodologia do Emprego Apoiado, percebemos que a retenção no trabalho é alta, e você não tem tantos desligamentos, pagamento de tantos impostos ou demissões em massa”, destaca Juliana.
Fernanda conta também que, por vezes, o RH procura por um profissional para uma vaga pronta, e o papel do consultor também é o de firmar parcerias que sejam capazes de customizar a oportunidade. Para que isso seja possível, é preciso que haja uma negociação com a empresa para identificar novas atividades que se encaixem com o perfil do profissional com deficiência que estamos atendendo e que essa negociação seja boa para ambas as partes, empregador e empregado. Quando começa o afastamento natural do consultor, ele fica disponível para fazer as mediações, negociar novas oportunidades e incentivar a pessoa que está acompanhando a fazer cursos e capacitações.
O contato com a família
A família acompanha todas as fases do Emprego Apoiado, mas tanto Juliana quanto a Fernanda enfatizam que o profissional com deficiência sabe exatamente tudo que é conversado com seus familiares, pois já são jovens ou adultos capazes de tomarem suas próprias decisões, inclusive sobre quando se sentem preparados para começar a trabalhar.
“A família tem que ter muita confiança em nosso trabalho e ser muito parceira, mas sempre com a pessoa que estamos atendendo junto. Esse sempre é o foco!”, comenta a Fernanda.
Em alguns casos, além do desejo do assistido em trabalhar, o salário dele vai compor a renda familiar, como acontece em muitos lares brasileiros, por isso, as profissionais também ficam sempre atentas em entender quando o profissional deseja mudar de empresa ou de área sem deixar de lado um meio seguro para que possam dar novos rumos às suas carreiras.
Os desafios do Emprego Apoiado no Brasil
Apesar do Brasil ter a Lei de Cotas 8.213 desde 1991, que exige que empresas com mais de 100 funcionários contratem pelo menos 2% de pessoas com deficiência ou reabilitadas, muitas empresas ainda não cumprem a legislação. Em sua última pesquisa, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) identificou que o país tem mais de 45 milhões de Pessoas com Deficiência, sendo que somente 486 mil pessoas com deficiência ou reabilitadas estão empregadas, conforme divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Em seus anos de experiência com Emprego Apoiado, Fernanda confirma que quando a empresa já procura por Emprego Apoiado, ela está mais disposta a investir na metodologia. “A dificuldade é chegar dentro da empresa. Depois, quando estamos lá fica mais fácil negociar uma troca de horário, adaptações”.
Por falar em adaptações, Talita compartilha uma solução simples e sem custo: “durante um atendimento com um gestor e um funcionário que tinha dificuldade para ler e separar os documentos, precisamos pensar em uma solução, uma adaptação para torná-lo mais produtivo e menos frustrado por não conseguir entregar a demanda nos prazos solicitados. Juntos observamos que os documentos separados eram, geralmente, da mesma categoria, então optamos por trocar as folhas brancas por sulfites coloridas, para que a pessoa com deficiência pudesse separar pela cor, essa adaptação razoável foi elogiada por todo o departamento, que passou a utilizar esse simples recurso que foi implantado.”
A Innovare Inclusiva trabalha com a metodologia e apoia o desenvolvimento de novos Consultores de Emprego Apoiado. Caso tenha interesse, você pode participar do curso online: Introdução ao Emprego Apoiado oferecido pela ANEA.
Por Rosiana Alda